terça-feira, 6 de agosto de 2013

Falar é antes de tudo deter o poder de falar. Ou, ainda, o exercício do poder assegura o domínio da palavra: só os senhores podem falar. Quanto aos súditos, estão submetidos ao silêncio do respeito, da veneração ou do terror. Palavra e poder mantem relaci onamentos tais que o chefe de Estado, o homem de poder é sempre não somente o homem que fala, mas a única fonte de palavra legítima: palavra empobrecida, palavra certamente pobre, mas rica em eficiência, pois ela se chama ordem e não deseja senão a obediência do executante. Pierre Clastres, A Sociedade contra o Estado.

domingo, 2 de junho de 2013

Meu banheiro azul não tem azulejos. Ele foi mal construído às pressas, sem nenhum capricho. Nas paredes só tinta a óleo que por preguiça ou relaxo do pedreiro foi passada diretamente na parede de cimento. Sem massa corrida, sem isolante, sem nada. Marcas de mofo branco se intercalam no fundo azul. Numa delas pode se ver um senhor de sobretudo e chapéu conversando com um coelho branco enorme. Uma pia branca de plástico, um vaso sanitário e a caixa de descarga, duas prateleiras brancas e uma marrom e o chuveiro compõem todo o seu mobiliário. Meu banheiro não tem forro, o teto é de telhas, de cimento e de teias de aranha. Durante o período de chuvas não é necessário nem ligar o chuveiro para tomar banho. Duas portas fazem ângulo,, uma para o quarto e outra para a área de serviço ou pedaço de quintal entre a parede e a cerca, com um tanque, baldes e um varal. Meu banheiro é feio, foi construído para ser reformado. Não será por mim. A mudança que espero é bem maior.

sábado, 1 de junho de 2013

Naquela casa, que mais parecia de papel, uma série de eventos impossíveis se sucediam. Aqui e ali brotavam, por feitiço ou magia seres da terra, da água e do ar. Fadas azuis de asas transparentes, gnomos com cheiro de terra, duendes brincalhões, salamandras pingando a água gelada das cavernas. Gerações de pequenos animais saídos de um bestiário impossível se sucediam naquele espaço de etérea alegria. E todo dia era dia de festa, faunos assanhados e ninfas inquietas vinham comemorar a maravilha da palpabilidade da existência da vida, do respiro, do sol que queima, do orvalho que faz brilhar e do frio que aproxima corpos. Tudo acontecia, espontaneamente acontecia. Porque só assim era permitido existir.
Este é o único espaço no blogger que gosto, então voltei a ele. Depois de Paris nos mudamos para Itacaré na Bahia, decisão precipitada e que ainda, depois de três anos eu não sei se foi a decisão certa. Ainda não era hora de voltar para o Brasil... Mas como eu não posso me dar ao luxo de ficar triste esperando, o jeito foi viver da melhor forma que conseguir por aqui, me acostumando a um mundo que é completamente novo, mas tantos outros já foram e eu consegui me adaptar.