terça-feira, 24 de março de 2009

Numas das vezes que vivi em Roma, conheci a cliente de uma amiga. Era uma mulher muito bonita, cuidada como se deve, com tudo o que o dinheiro pode comprar.
Ela tinha vindo da Croacia com treze anos, a velha historia de trafico de mulheres, mas este com final menos dramatico: ela conseguiu se emancipar economicamente e proteger sua familia, nunca entramos em detalhes sobre como tudo aconteceu mas era uma mulher de muita coragem para os seus vinte e poucos anos.
Ela morava num apartamento num dos bairros mais caros de Roma, e dirigia um carro desses grandes, que eu no sei o nome, uma bmw qualquer coisa.
Mas o que me lembro dela, na verdade, era da tristeza daquele espaço tão cheio de luxo: varios porta-retratos ornavam a sala de estar, todos estavam vazios. Terrivelmente vazios. Nenhuma foto de familia, ou mesmo dela, nenhum unico objeto que nos desse a sensação de aconchego que é o que sempre esperamos de uma casa. Tudo impessoal. Me perguntei muitas vezes se o fato de não guardar lembranças da familia, ainda que a visitasse pelo menos uma vez por ano, fosse para continuar se protegendo dos abusos e dos absurdos que ela provavelmente passou nos primeiros anos na Italia.
Hoje me lembrei dela, me lembrei de como antes mesmo de chegar aos trinta anos ela nunca era capaz de confiar em ninguém. Nenhum relação de amor ou amizade parecia ter realmente importancia na sua vida. Nada. O dinheiro e tudo o que ele pode comprar eram as unicas referências de sua vida.

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