sábado, 18 de julho de 2009

De novo a burca

Sei que estou sendo repetitiva mas é que às vezes ficam uns assuntos aqui engasgados na minha garganta e se eu não ponho para fora fica impossivel respirar direito.
Voltando sempre a questao da burca na França e uma possivel proibiçao por parte do governo, acho que a discussão nos blogs brasileiros que tive a possibilidade de ler esta muito superficial, talvez, nao seja a palavra correta, de qualquer forma acho que esta fora da realidade e das razoes da discussao.
Nao se pode, nao adianta, nao é possivel começar uma discussao sobre a anulaçao feminina que é o uso da burca e terminar falando que no Brasil as mulheres sofrem o mesmo tipo de repressao porque sao "obrigadas a pintar as unhas e estar sempre bem vestidas". Nao é a mesma coisa. NAO EH A MESMA COISA!
A discussao, na minha opiniao vai muito alem da ingerencia do estado na liberdade vestimentaria de seus cidadaos. Proibir a burca significa esperança para uma imensa quantidade de meninas e mulheres que vivem nas periferias das grandes cidades francesas e que sao assediadas cada dia por se vestirem como "francesas" isto eh, saia curta, jeans, decote... A violencia é imensa, e nao eh so verbal, estupros e pancadas fazem parte, extremos na verdade, mas nao por isso raros, do dia a dia de quem vivendo numa periferia nao se adequa a ideia deturpada e perversa que fazem alguns meninos da religiao muçulmana. E a burca legitima essa violência. A burca e o niqab estao ali para dizer, sim, voces tem razao, uma mulher deve se cobrir, porque a mulher que se expoe a olhares masculinos se expoe tambem a todo tipo de agressao por parte de outros homens.
Outra coisa terrivel que ja falei antes eh a anulaçao da mulher como corpo material. Quantas pessoas que falaram sobre relativismo e sobre direito de escolha nos blogs femininos tiveram a experiencia de conversar com uma mulher que usa a burca ou o niqab? Pois eh, o problema eh que quando conversamos com uma pessoa frente a frente e ela esta escondida, o interlocutor como corpo material nao existe. Ela nao existe aos nossos olhos e nao existe para a sociedade. E isso implica dificuldades para, por exemplo, ir ao medico, porque uma mulher velada nao pode ser consultada por um medico homem e isso ja foi motivo para muita discussao na França, pois alguns casos de agressoes contra medicos por parte de maridos violentos ou mesmo de mulheres que nao foram adequadamente tratadas porque a burca e o marido nao permitiam.
Entao eu acho que comparar isso com unha feita nao da. Porque estou de acordo que somos exageradas a morte quando se trata de "andar arrumadinha", mas isso nao nos causa problemas maiores, nenhum tipo de agressao, de discriminaçao. No maximo nao vao me deixar entrar numa boate se eu nao estiver bem vestida, e quem quer entrar num lugar desses?
A nossa noçao de higiene corporal eh sem duvida nenhuma exagerada, mas eh parte de nossa cultura e nao agride ninguem, eu me dou conta dos pensamentos selvagens que me passam pela cabeça quando vejo um ser humano de unha suja, ou que sai do banheiro sem lavar as mao, ou o fim do mundo para mim, uns sovacos peludos. Mas essa eh a minha concepçao da minha propria higiene, condicionada pela minha cultura, sem duvida, mas que nao faz mal a ninguem ate porque cada um nessa vida deixa os cabelos crescerem onde quiserem.
O que eu quero dizer, eh que nenhuma mulher eh obrigada na sociedade ocidental a ser sedutora 24 horas por dia, isso eh uma escolha, voce pode querer usar salto alto ou preferir um chinelinho, voce pode escolher! E existem leis que nos amparam, nao ha no mundo ninguem que ditara a minha relaçao com o meu corpo, porque ainda que a midia nos martele o dia inteiro como devemos nos vestir ou qual refrigerante temos que beber para estar na moda, ninguem eh obrigado a nada. Nem eu, nem vocês. Mas elas sao, a burca que anula, que oprime, que nega a existencia feminina eh uma imposiçao social que pode terminar em morte pela honra, e com isso nem se discute.

obs: e os acentos ficam para outro post.

5 comentários:

Helena disse...

Olá! Estou acompanhando o teu blog há pouco tempo e hoje resolvi comentar: é o primeiro bom texto que leio sobre o assunto da burca. Realmente, não dá pra comparar a nossa realidade com a delas. Concordo com cada linha que tu escreveste. Eu só me questiono num pequeno ponto: e se uma dessas mulheres se sentir agredida exatamente por não poder usar a burca, algo que ela estava acostumada há muitos anos, que faz parte da cultura dela, fico pensando principalmente nas mulheres mais velhas. A lei estará ferindo a liberdade dela também, mas claro que o benefício dela atingirá de uma forma muito mais profunda uma grande maioria das muçulmanas.

Um abraço!
Helena

Anônimo disse...

Gostei, gostei e coloquei no meu blog.

Amanda Lourenço disse...

Você acha que não é a mesma coisa, pq vc esta dentro de uma das duas culturas e não consegue olhar de fora. Sim, é claro que não podemos comparar a burca com as unhas pintadas, mas podemos comparar com o padrão magro de beleza, com a destruição da auto-estima das mulheres ocidentais, com a determinação de que somos bibelôs para enfeitar o mundo dos machos, com a propagação das cirurgias estéticas para ficarmos mais belas para nossos homens, com a estimulação à competição entre as mulheres, com a pré-determinação de que porque temos um utero (para ser fina) somos menos importantes. Com certeza, a opressão ocidental não é uma questão de unhas pintadas.

samya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gabimateus disse...

Amanda,
Eu entendo sua posicao, mais nao estou de acordo com voce. Eu acho que s padroes de beleza impostos pela sociedade nao sao imperativos de vida ou morte. A burca encerra no corpo feminino a honra da familia, da comunidade, do meio social.
Nos paises onde a burca e uma imposicao de estado, ou comunitario, a deshonra e paga com o chicote, ou com a pena de morte.
Eu nunca vi um pais ocidental que chicoteia a mulher porque ela nao aumentou os peitos! Ha pressao, claro nao vou negar. Mais no final, a escolha e de cada uma de nos.
No Brasil assim como em muitos outros paises, existe muita opressao feminina, muita descriminacao e desigualdade, mas comparar isso com a repressao imposta pela a burca ou o niqab e completamente fora de contexto.