(ISHTAR) - Ai!, menino, do que precisavas mesmo era da machadinha... flecha é pra caçar cambaxirra, pardal... Ai!, meu pequeno, quanta tristeza!, vem ca no meu colo e chora...
Se quiser leitinho, também tem.
(CUPIDO, soluçando) - Pra desencadear paixões so minhas flechas. Esse teu avestruz tem belas plumas, quem sabe se eu usasse algumas...
(ISHTAR) - Tuas flechas voariam em ziguezague, e irias ferir a quem menos miraste...
( CUPIDO, malicioso) - E não seria assim talvez o melhor?
(ISHTAR, sorrindo) - O Acaso não é tão imprevisivel nem tão enganador quanto tu, meu pequeninho safado...
(CUPIDO, sorrindo) - Parece que bem me conheces...
(ISHTAR, maliciosa) - Ora se, meu pequerrucho!, ora se...
(CUPIDO) - De onde vens, titia?
(ISHTAR) - Da Mesopotâmia, filhote. Os Deuses do Olimpo ainda nem existiam, e eu ja era uma Deusa, idolatrada pelos mortais. Pois o que seria da vida sem as loucas folias da noite. E sou eu que desencadeio a desgrenhada furia da paixão.
(CUPIDO) - Mamãe também é mais antiga que os Deuses do Olimpo.
(ISHTAR) - Um poucochito, sim.
(CUPIDO) - E eu sou muito mais antigo que Mamãe.
(ISHTAR, rindo às gargalhadas) - Mais velho que tu, meu pequenino safado, so a Porta do Inferno.
Zuca Sardan, Babylon mystérios de Ishtar
Manhoso e preguiçoso, esse Diabo Faisca, o mestre das intrigas e imbroglios de boudoir... Trabalha no lusco-fusco, ao som de cravo e mandolina. Pisa macio, pra não ouriçar Dona Tonica, a severa locandeira da pensãozinha familiar onde ele mora discretamente num quartinho dos fundos. Quando seus colegas mofam de seu paradoxal domicilio, justifica-se o Faisca, que assim pode melhor disfarçar suas secretas atividades. Ademais a pensão é baratinha. Ao que parece, Belzebu não paga tão bem quanto se imagina a seus fiéis funcionarios. Mas se o salario é baixinho, a verba de representação é polpuda. Faisca so anda de taxi. Freqüenta palacios, teatros, cassinos... e a fina flor da sociedade.
idem
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